Tenho uma paixão enorme pela Cidade Maravilhosa. O meu, o nosso Rio de Janeiro tem uma beleza única, tanto natural quanto cultural. Como é bom passear por seus inúmeros centros culturais, abertos ao público, com exposições gratuitas – fato difícil de encontrar em outros países. Como é prazeroso ver tantos artistas construindo novas realidades e lutando, muitas vezes, com pouco apoio. Os dois maiores eventos da cidade, o Réveillon e o Carnaval, trazem novidades anualmente e oferecem experiências únicas. Um amor toma conta de mim e me faz, a cada dia, ser um grande promotor de tanta diversidade. Aproveito, no Brasil e no exterior, cada oportunidade que tenho para enaltecer essa cidade como um destino de viagem incomparável.
Vivo também uma sensação única de conexão com a natureza ao mergulhar em suas praias, montanhas e em símbolos únicos, como o Cristo de braços abertos, a Floresta da Tijuca com sua exuberância, o Pão de Açúcar com suas vistas que clamam por paz, o Mirante Santa Marta, os fortes de Copacabana e do Leme, a bucólica Santa Teresa e o Bar da Laje – onde é possível entender os grandes conflitos que ocorrem na cidade, para citar apenas alguns exemplos. É uma cidade tão bonita, com tantas desigualdades, e ainda com muito por fazer pelos mais desfavorecidos. Devo, no entanto, reconhecer que conta com uma gestão que busca eficiência e luta por um Rio mais igual, sob a liderança do prefeito reeleito Eduardo Paes.
Ao mesmo tempo, um medo corre em minhas veias. Moro em uma cidade violenta, com políticas públicas de segurança muitas vezes equivocadas, que punem duplamente os mais desfavorecidos. Quantas crianças e jovens morrem na terrível guerra diária entre milícias, traficantes e policiais, que também são assassinados e deixam suas famílias. A segurança virou, como outros setores do governo, uma moeda de troca no momento da nomeação de comandantes de batalhões, delegados e secretários de Estado. Esse fato acaba por enfraquecer a gestão efetiva de cada segmento. Meu coração chora ao ver tanta disparidade na gestão do dia a dia.
O governo federal deveria assumir para si um projeto de segurança nacional com os estados mais afetados e, talvez, a presença das Forças Armadas nas ruas pudesse trazer soluções mais abrangentes, que não podem mais ser pontuais, mas devem seguir um plano com metas e diretrizes. Nota-se uma falta de coordenação nas ações dos diversos entes da Federação.
Rio, eu te amo, mas estou com medo e quero ser uma voz para te ajudar…
Bayard Do Coutto Boiteux é professor universitário, pesquisador e escritor.